Acho que já disse isso aqui antes, mas vou dizer de novo... Ser humano é uma merda, nunca ta contente.
Antigamente eu reclamava que meu trampo acabava comigo. Hoje simplesmente eu trabalho fazendo quase nada o dinterim.
Não que ache ruim =D. Mas é que o tédio estava tomando conta do meu ser, a ponto de eu jogar 2 horas seguidas de paciência. Não, não consegui vencer uma só vez. Aquele jogo é enjoado demais. O laboratório não tem ninguém a não ser eu. Hora ou outra aparece alguém por aqui, mas nada além. A patroa é máster gente boa comigo, e todo mundo trabalha de forma unida, ao contrário do meu último local de trampo.
Quanto à chatice, isso eu já resolvi de letra. Como os computadores daqui são pra estudo, não tem acesso à web. Resultado? Nada de orkut ou MSN. O que me levou a pegar meu MP4, lotar de inutilidades pra passar o tempo, e com isso, 2 coelhos numa cajadada só. Entre as tranqueiras, já coloquei algumas revistas que eu baixei como a Mundo Estranho, Super Interessante, a Veja, tudo em 15 ou 16 mb cada. Coloquei alguns e-books da Agatha Christie, a birografia do Kurt Cobain (Heavier than Heaven, do Charles Cross) que eu terminei de ler dias atrás. Demorei por que ela tá toda em inglês, e ler em inglês e traduzir é um porre. Ainda mais quando surge uma merda de gíria criada por eles, que eu sequer jamais ouvi falar. Demorei pra descobrir que no livro, eles criaram o termo pra “heroína”. E essa palavra aparece em quase todas as páginas.
Em questão de jogos, coloquei um emulador de Nintendo 64 e estou jogando The Legend Of Zelda: Ocarina of Time. Se você, nerd gamemaníaco, nunca sequer ouviu falar desse jogo, tome vergonha na cara. O jogo é foda, com um enredo muito louco. O principal é um loirinho de roupa verde chamado Link. O objetivo de Link é andar pelas terras do reino de Hyrule, resolvendo mistérios, entrando em templos e tudo o mais pra salvar a princesa Zelda. Parece tosco mas definitivamente, tosco é a última coisa que Zelda é. Fodão, fodão.
A revista Mundo Estranho tá tru. Mostra uma lista dos 10 maiores traidores da história. Nele tá aquele cuzão lá que dedou o Tiradentes e mandou ele pra forca. Ele ficou com consciência pesada e se auto-suicidou-se a si próprio. E depois se matou. Mostra também uns lá que traíram exércitos e um que passou a perna no Adolf Hitler, o maior emo da história.
Enfim, enfim.
Mas quanto ao meu local de trampo... a sala é toda caprichadinha, e tem uns cartazes do ursinho Pooh, do Tigrão, do Leitão (ai meu De-Deus), e finalmente, de vários personagens da turma do Pooh, tipo o Ió, o Coelho, entre outros.
O que mais me revoltou é que eles escolheram logo a turma do Pooh, que não é tão lendário para as crianças como o único, o insuperável, o magnífico Chaves.
Todas as crianças dessa banda do mundo conhecem o Chaves. Como puderam deixar de fora o Seu Madruga, o inadimplente mais fodão?
Isso é inaceitável.
Vou colocar em prática meu plano de transformar essa sala na Vila do Chaves. Colocar um triciclo ao lado do quadro negro que por alguma razão, não é negro, é verde. Um barril qualquer já vai servir pra ser a morada do Chaves e mais algumas modificações, a sala vai ficar Ó: (y)
Continuando... temos o quadro de desenhos, e uma garotinha me desenhou. Curiosamente, o desenho se constitui em um boneco de palito, estilo Xiao-Xiao, mas com cabelo espetado e sorrindo.
“Oooolha tiooo, é vocêêÊ”
Eu olhei aquele desenho, e tive vontade de jogar aquela merda pela janela. Mas com a garotinha me olhando, com um sorriso de: “olha meu presente tioooo”, com uma alegria inexplicável em seus olhos, e uma vontade de fazer amizade comigo, repensei.
Se eu jogasse o desenho pela janela, com certeza a faxineira, dona Antônia vulgo Toninha encontraria. Vendo que era um pedaço de papel sem valor monetário algum, ela não hesitaria em jogar no lixo. Do lixo, iria se perder pra sempre aquele pedaço de papel, que na realidade, é a inspiração de uma criança, todo o dom de amor infantil colocado em forma de giz de cera preto e verde. Se eu jogar pela janela, seria um ato cruel, iria transtornar a mente da garota.
Ela jamais iria me perdoar. Quando crescesse, ela iria querer se vingar de mim, por ter jogado o seu desenho pela janela.
Após 5 segundos de reflexão, fiz uma coisa legal.
“Que lindo desenho mocinha!”
Aí eu peguei o desenho, levantei até o mural, peguei uma tachinha e coloquei lá.
Ela riu, me deu um abraço, levantou os olhinhos e perguntou:
”Vai ficar no mural tiooo?”
“Vai sim. O ano todo.”
“Obaaaaaaaaaa.”
E sempre que eu chego aqui de manhã, entro no laboratório, acendo as luzes, olho pro desenho e dou um sorriso.
Até que crianças são legais. Tudo bem que o desenho não tem porra nenhuma a ver comigo, mas caramba, o que vale é a intenção.