quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Férias e vômito à beira-mar

Pois bem, entrei de férias da escola e essa é a minha última semana no trampo. Cá pra nós, férias é bom, mas um pouco oscilante. Eu fico sem fazer nada, tédio total, uma falta de animação sem fim. Eu já tentei de tudo, mas parece que tem algo dentro de mim que me obriga a ir pro trampo todo santo dia, senão fico sem sentido.

Não condeno as férias também. Nessas horas, eu agradeço por estar de férias também, por que posso atualizar minha lista de filmes vistos e livros lidos. Posso também, visitar velhos amigos dos quais o trabalho me obrigou a afastar um pouco, filar um café, e com sorte uma partidinha de Guitar Hero. É realmente divertido ver os derrotados jogando no Medium, enquanto eu no Expert consigo uma performance consideravelmente maior.

O melhor é poder acordar às 09:00 sem culpa ou pressa por ter perdido o horário. É, realmente, as coisas vão bem nas férias. Dá também mais tempo pra escrever aqui, o que me falta é sobre o que falar. Nada me vem à mente em alguns momentos, e na boa, nem sei se isso é chatice minha ou algo do tipo.

Essa minha resistência às férias se dá ao fato de que muitas vezes, eu me fodo consideravelmente nelas. Nada demais, nada a ser levado em conta por uma outra pessoa, mas é algo que me deixa puto certas horas.

Pois bem, nas últimas férias que fui à praia, aconteceu algo bem peculiar comigo. É aquelas merdas que só acontecem comigo MESMO. O cenário era a praia de Guarapari no Espírito Santo, o horário era algo em torno das 18:00 e começava a anoitecer. Desci do apartamento com minha irmã pra dar uma volta pela praia e comprar alguma coisa pra comer, só pra falar que tava comendo alguma coisa.

Vou andando pela orla da praia, olho ao lado e vejo uma quitanda com goiabas que a meu ver, pareciam excelentes. Não deu outra, comprei 3 goiabões. Goiaba é foda, melhor fruta do mundo. Se eu for pro céu, quero goiabas. Enfim, 3 goiabões, mandei tudo pra dentro logo ali na orla da praia. Terminando, arrotei um sonoro BUUUURP de satisfação com as frutas e acabado, voltei pro apartamento que estávamos.

Liguei o Guitar Hero e comecei a jogar, eis que começa a me dar uma tonteira, uma vertigem, os olhos ardendo, suando frio e respiração cansada. Logo me deu a ânsia de vômito, corri pro banheiro e o Juca foi chamado ali mesmo no vaso, liberando os goiabões, só que em pedacinhos.

O vômito, como muitos sabem, é uma excelente forma de se livrar daquela carga extra, e recuperar o bem-estar. Quando se sentir mal, vomite. Você vai se sentir mais leve, melhor, mais disposto e com o bem-estar em alta novamente. Portadores de bulimia, pulem essa parte.

Pois bem, eis que volto pro meu Guitar Hero, e a ânsia de vômito voltou. Merda, lá vou eu pro vaso chamar o Juca de novo. Aí não teve jeito, juntou o povo todo da casa e começaram a dizer:

- É insolação, leva esse menino pra farmácia.
- É febre!
- Isso é encosto! É ENCOSTO!

Eis, que meio grogue, meu irmão me puxa e me põe dentro do carro juntamente com a sogra dele (dona Diva, essa merece um post!) e minha irmã, rumo a farmácia. Eu já estava sem noção de nada e estava começando a ficar tonto novamente. Pelo sim, pelo não eu tentei manter a cabeça ereta, a fim de evitar qualquer problema com minha respiração. Se eu ficasse deitado, eu não conseguiria respirar.

Olha como são as coisas: quando fico tonto, perco a noção do ridículo e da vergonha. Se eu ficasse tonto 24 horas por dia, seria 10 vezes mais cara de pau. A ocasião foi a seguinte: a farmácia ficava na orla da praia, com muita gente passando e voltando. O relógio contava 18:30 / 19:00, então a calçada estava lotada. Já cheguei zonzo e perguntei pro balconista, que na ocasião tinha 18 anos, cara cheia de espinha e cravos e cá pra nós, forte sinal de que o tio dele era o dono da farmácia:

- B-Boa N-Noite... tem algum remédio pra... en... enxaqueca?
- Hum... eu temo em dizer que seu caso é insolação...
- Me-meu ami-amigo, eu sei lá o-o o que eu-eu tenho. Eu sei que nuuuumm to-to bem não.
- Eu acho que é insolação ou desidratação... seu cocô está saindo mole?
- Que cocô? Eu num caguei ainda, saiu tudo pela boca de cima mesmo.
- Hum, OK. Bom, eu tenho um remédio aqui testado na Bélgica, que você pode tomar de 6 em 6 horas, fervido em água, com...
- Amigo, manda uma injeção da parada mais violenta pra melhorar que você tiver.
- Olha, me desculpe, mas não podemos dar injeção...
- Ahn... obrigado.

E saí, com meu irmão e dona Diva no balcão, conversando com o balconista sobre qual a melhor solução.

E é exatamente aí que eu perdi a noção do ridículo. Eu estava fraco, não estava parando em pé, sentei na pequena escadinha da entrada da farmácia e tinha um grupo de 5 garotas logo ao lado, na esquina. Qualquer coisa que eu fizesse, elas notariam na hora. Eu sento, quietinho e uma delas diz, baixinho, achando que eu não ouviria:

- Olha, aquele garoto ali tá passando mal!
- Deve ter bebido demais! Cachaceiro é foda.
- Pior que é mesmo.

Em respeito às garotas, e pra evitar minha vergonha, tentei segurar o Juca que já estava voltando. E pelo jeito, o Raul tava junto. Não deu outra, eu juro que eu tentei ao meu máximo, mas vômito quando vem, é implacável. Não tem como parar ou impedir, a solução é botar pra fora mesmo, e foi o que eu fiz. Cada gota do plasma vomital saiu com velocidade alucinante, molhando nojentamente cada centímetro daquela calçada que havia sido limpa a pouco tempo pelos garis. Junto, as batatas fritas, o resto dos goiabões, carne, o que eu tiver comido, foi embora naquele momento. Terminei, com uma pequena babinha balançando no ar, pendurada na minha boca.

Uma das garotas, disse em um tom anormalmente alto:

- CREDO, QUE NOJO!

E quer saber, eu não estava nem fodendo pro que aquela patricinha ia pensar. Já tinha feito mal juízo de mim, achando que eu havia bebido! Minha irmã, que tava vendo a cena, gritou:

- Felipe, o Caio tá vomitando de novo!

E mais uma vez, meu irmão me segura pelo braço, me põe no carro e vamos rumo ao pronto-socorro. Quer dizer, eu sei lá se era um pronto socorro, ou um hospital, ou um posto de saúde. Só sei que chegamos em cinco minutos.

Desci do carro e eu já estava um pouco melhor, embora cansado, e um pouco zonzo. Cheguei na sala de espera e olhei ao redor. Não sei se foi a situação, ou qualquer outra coisa, mas me partiu o coração ver aquela cena. Ao meu lado havia uma mãe chorando, possivelmente pelo filho, não sei. Olhei pro outro, um senhor comentou que o filho estava esperando pra ser atendido já havia 3 horas, e nada até o momento. Até mesmo doente eu tive uma leve reflexão do que é aguardar em um hospital por atendimento demorado.

Eis que feito o cadastro, esperei mais uns 15 minutos, até que uma moça de rabo-de-cavalo, abre a porta e diz:

- Caio Andrade.

Levantei e fui andando em direção à ela. Me acompanhando foi o meu irmão.

- Desculpe, só pode entrar um acompanhante.

Aí a dona Diva se ofereceu e entramos.

Era um corredor grande, com bancos, bebedouros e outras coisas mais. Fui andando e olhando ao meu redor. Houve uma ocasião que passei frente a um quarto com a porta aberta e olhei. Uma criança com a mãe dormindo, o braço todo enfaixado. Possivelmente ele deve ter tomado um tombo com a bicicleta ou ter caído no jogo de futebol. O que eu vi era que a faixa estava meio avermelhada de sangue, como se o coágulo houvesse se rompido e parte do sangue vazou. Uma enfermeira viu aquilo e já estava providenciando a troca.

Entrei num consultório e o doutor só me perguntou a quanto tempo eu estava com aquilo, mediu minha temperatura, analisou minha expressão facial e rabiscou qualquer coisa num pedaço de papel.

- Entregue pra enfermeira, e tome o medicamento. Espere 15 minutos e você estará liberado.

Ufa! Não iria ter que ficar a noite inteira lá. Já era uma excelente notícia. Saí do corredor e tentei avistar a enfermeira com quem eu teria que falar. Mas nem precisei procurar muito, uma moça de uns 24 anos me abordou e perguntou:

- É você que é o Caio?
- Sim, sou eu.
- Prazer, eu sou a enfermeira que vai te medicar. Por aqui..
- Moça, eu preferia te conhecer numa situação melhor.

E ela era bem humorada ainda.

- Comendo goiaba em excesso hein?
- Pois é, moça, vi na feira e não resisti.

E fomos conversando, enquanto ela preparava minha injeção. Ela continuou:

- Você é mineiro, Caio?
- Sou, de Ipatinga...
- Aqui vem muita gente de Ipatinga mesmo. Pensei que em Minas tinha muita goiaba.
- Tem muita. Mas não sei se tem mais do que nos outros lugares.
- Deve ter. Aqui não tem muito.
- Pois é. Por isso que são enormes, tudo de fora.
- Boa teoria. Caio, pare o braço, vai doer um pouquinho.
- Manda ver, antes que eu vomite na sua roupa.

Ela aplicou a injeção e continuamos a conversar, ainda contei o vômito na frente das patricinhas. Ela riu muito, cheguei a ficar com vergonha.

- Mas isso não é nada. Eu lembro que chegou uma criança aqui e eu tive que atender, ela não parava de vomitar. Minha roupa ficou toda suja.
- Putz, sério? E o que ela tinha?
- Insolação, desidratação, não sei. Possivelmente, você também tá com os mesmo sintomas. Seu cocô tá saindo mole?
- Eu não caguei, moça. Saiu tudo pela boca de cima.

Ela não aguentou e riu na hora.

- Você tem bom humor, Caio!
- Só um pouquinho. Tem hora que eu sou ranzinza.
- Todo mineiro é bem humorado? -
ela falava como se mineiro fosse um ser de outro planeta.
- É uai! - o "uai" foi pura ironia. Mas soou verdadeiro.
- Tá de férias aqui?
- Estou. Que coisa né? E agora estou aqui recebendo injeção.
- Ah, isso acontece direto. Teve uma vez que veio um gaúcho com uma ferida grande aqui, só gritando "tá doendo tchê!".
- Que coisa nojenta. Você tem estômago!
- Ah, acostuma. Depois de um tempo fica tudo muito normal.
- Já mexeu em cadáveres?
- Só na faculdade. Tem que ser legista pra examinar.
- Ah...

Depois de 15 minutos, eu ainda estava bem indisposto, mas fui liberado. Me despedi da moça, as enfermeiras tinham que ser gentis assim.

Que pena, eu não peguei o MSN dela. E pra ser franco, nem o nome dela eu perguntei. É que eu tava escrito no crachá, mas eu não tava disposto pra ler nada.

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