"Ah, é o Caio, filho da Penha e do Cacau."
Eu era meio banguela e tinha cabelo de índio. Mas tudo bem, detalhes à parte, não é necessário citar os pormenores. Eu era menos feio quando criança.
Aos meus amigos de infância, tenho contato com eles até hoje. Pelo menos grande parte deles. São meus vizinhos a quase 12 anos, então é natural já.
Digamos que crescemos juntos, jogamos muita bola, muito churrasco, e até beber a gente bebeu até cair. Hoje eu não mexo mais com bebida, mas me lembro dos meus tempos de cachaceiro mirim. O que eu posso me gabar é que nunca cheguei a chamar o Raul por conta de bebida, mas é por que depois que minha visão começava a dar reflexos meio atrasados, era hora de passar pra Coca-Cola.
Houve uma ocasião da qual devo-lhes contar como foi o ocorrido. O Dário, um amigo meu que eu conheço a uns 5 ou 6 anos (se não me falha a memória...), sempre foi o mais velho daqui da rua. Hoje, eu com 18 anos, ele tem 23. Deu pra notar né? Devido á idade, ele sempre foi o cara que agitava os batidões da rua. Portanto, qualquer festa de aniversário surpresa, era na casa dele.
Pois é.
Tem a Ju também, que posso dizer com toda certeza, se eu for descrever a diferença que ela teve na minha vida, meus dedos iam sangrar de tanto digitar, o HD queimaria pela quantidade de informação de caracteres armazenada, e o doutor me proibiria de usar um computador por 5 anos. Em suma, ela é uma grande amiga pra mim, tanto ela quanto toda a família dela.
Então...
Era véspera do meu aniversário de 16 anos. Na ocasião, nem sabia que eu iria ter festa (nunca fui muito chegado em festa de aniversário pra mim...) e então, pra mim, aquele era um ano natural como qualquer outro. Iria fazer um ano a mais de idade, e ficar mais velho. Fim de papo. Até minha mãe insistira em um bolinho para os amigos mais chegados, mas eu disse "não".
O que houve então?
Dário e Ju, resolveram vir com um papo pra mim de que a Miriam, irmã do Dário estava precisando de uma festa pra alegrar-se, e coisa e tal. Eu disse na hora que topava e perguntei o dia. Pra não ficar muito na cara, eles vieram com o papo de que iriam marcar e me avisariam. Tá, ué...
E o assunto... morreu. Nem perguntei mais, houveram outras ocasiões, e por uma ou duas semanas, nem ouvi falar de nada. Achei que haviam desistido.
Mas veja bem, uma hora ou outra eu descubro a verdade. As escrituras dizem CLARAMENTE:
E não é que foi EXATAMENTE o que houve?
Em uma visita à casa da Ju, ela sai da sala e eu fico olhando para o teto. Quadro legal, bonito vaso de flor, não gostei daquele enfeite, lista de convidados pra festa do Catito, DVDs, TV, outro quadro legar, que-que-que-como?
Aí eu levantei, e li um papel maaais ou menos assim:
LISTA DE CONVIDADOS PRA FESTA DO CATITO.
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
Nome
--------------
Felipe <= Irmão Carol <= Irmã Penha <= Mãe
Eu li aquilo e pensei...
"Que merda... esse povo tá agitando festinha pra mim."
"O Juliana, me responde uma parada aqui..."
"Que é?"
"Essa lista aqui..." aí mostrei a lista "...é pra festa da Miriam?"
Aí ela arregalou os olhos, abriu a boca, mandou a mão na lista e ainda falou:
"É SIM! E QUEM MANDOU MEXER NO QUE NÃO É SEU?"
"Nãooo, que isso, eu não li nada, juro. Só os convidados."
"Caio, você leu isso?"
"Não!"
"Eu sei que leu!"
"Não li."
"Leu."
"Por que você tá falando isso?"
"Por que eu sei quando você tá mentindo, eu te conheço."
"Que bom, sabe quando eu quero mijar também?"
"Arrogante."
"Eu não falei nada..."
"Você leu ou não?"
"Não! Você não acredita em mim?" - e olhei nos olhos dela. Nunca menti tão bem. Eu sei que ela não acreditou, mas eu sei que eu menti bem, entende?
E por aí ficou. Eu não sou trouxa, não me esqueço do dia da festa. Tava um chuvão da porra, e eu nem falei nada. Já sabia de tudo, e todo mundo dixavava quando eu chegava, era legal demais cara. Às vezes, havia um pequeno grupo de amigos conversando, aí colocavam o menorzinho pra vigiar quando eu estava chegando. Aí, como não sabiam dixavar, eu chegava de boa e eles só mudavam de assunto de uma hora pra outra.
Daí o Dário me liga:
"Aí Caio, peguei o filme lá cara, aparece lá em casa pra gente ver."
"Ah, tem como levar lá em casa não?" - eu ficava falando pra não ter que ir na casa dele.
"Ah, para de bichice, aparece lá."
"Queee, vou não, to caaaansaaaaaaado..."
"Vai lá PESTE!"
"Se der eu apareço lá."
E assim ia.
Aí eu chego na casa dele. A mãe, Dona Meire (qualquer férias, eu vou aí em Sabará, me aguarde!) me recebeu.
"Oi Dona Meire, o Dário tá aí?"
"Ah Caio, o Dário foi ali no supermercado e não demora."
"Ah tá, vou lá atrás dele."
"VAI NÃO, VEM CÁ."
"Não, é que..."
"VEM CÁ MENINO, PESTE!"
E eu subi os lances de escada. A cada degrau, sabia que tinha um bolo, balão, brigadeiro, faixa de "PARABÉNS CATITO!"
Me lembro muito bem da cena até hoje. Tinha um bolo gostoso de chocolate em cima da mesa, o pessoal batendo palmas com parabéns pra mim. Eu disse algumas bobagenzinhas do tipo, "eu não esperava", "foi uma surpresa mesmo, eu nem desconfiei", e por aí vai.
Hoje o Dário e a Ju já sabem que eu já sabia da festa. E mandaram queimar a lista depois de feita, imaginam só? A Ju esqueceu de chorar fogo naquele pedaço de papel incriminador, talvez por distração.
Eu e a Ju na minha festa de 16 anos. Nesse tempo eu não tinha barbicha ainda.
Sei que as intenções dos promotores do evento Festa do Catito Ano XVI foram as melhores possíveis, e não posso negar que me fez sentir bem ver tanta gente reunida pra celebrar minha idade avançando. Mas eu sempre fui frio como cadáver de esquimó. Naquele tempo, fazer aniversário era estar um ano mais perto da morte. Hoje, as coisas não são tão diferentes, já que se passaram 2 anos.
Por incrível que pareça minha mãe fez questão de fazer festa em TODOS os anos pra mim, enquanto criança. Teve painel das Tartarugas Ninjas, Batman, Pokémon e aquelas frescuras de moleque todas, como surpresinha, CD de músicas infantis rolando e a porra louca toda.
Sem contar que eu me lembro que toda festa, algum pivete TINHA que machucar. Isso me faz lembrar uma situação...
Eu ainda morava no Jardim Panorama, isso tem uns 12 a 13 anos já, se eu não me engano. Pois é, morávamos lá e tinha um par de irmãos amigos meus, o Edmar e o Dudu. O Dudu, hoje que eu me toquei, tinha asma. Eu sempre perguntava pra que ele usava aquela bombinha toda hora, e ele me explicou:
"ééé..... faaaaaalll...ta.... dee.... aaaaaaaaaar.".
"E essa bombinha, te dar o ar de volta?"
"... éééééééééé..."
"Quer dizer que seu pulmão é uma merda?"
".... nãããããão... seeeeeeeei!"
E por aí vai. Era véspera do niver de alguém ali perto, não me lembro da porra do nome, mas era algo como João ou José e mais um nome depois. Que seja, naquele tempo os vizinhos eram mais unidos, então a patota toda foi convidada. E lá fomos nós, e determinado momento da festa, com bolo, brigadeiro, guaraná, salgadinho e até um animador chato e mala lá no meio tinha. Ele parecia com o Tom Cavalcante e se aproveitava do fato para se vestir à caráter como o Ribamar do Sai De Baixo (anos 90, volte!).
Como era uma festa de criança e o pai do aniversariante deve ter sido claro:
"Quero essa pivetada quieta e calada num canto, dá uma brincadeira pra eles ficarem distraídos que eu vou fazer sala pros convidados, despachar essa putada mais cedo que hoje tem jogo do Galo."
Eu imagino que tenha dito isso...
Daí, dito e feito. O tal do Ribamar cover sentou aquela criançada toda numa roda e começou a brincar de perguntar nome, contar piada e nesse meio tempo que a gente tava distraído, ele pegava as nossas coisas e escondia só de brincadeira. Tipo, às vezes o menino tava pensando pra responder ou posando pra foto, lá ía ele pegando os óculos de algum panguanaite que dormiu no ponto. Daí todo mundo ria do menino, e com sorte ele não chorava.
Lembro que ele pegou meu GumWatch e depois devolveu, é claro. Do Edmar ele pegou uma pulseirinha muito gay que diz ele que dava sorte. De uma menina lá da rua, um cordãozinho mixuruca.
Do Dudu... é do Dudu foi a bombinha de asma mesmo. E o mongol nem notou nada... daí uma hora eu olho pro lado e tá o Dudu até vesgo de roxo segurando forte meu braço. Parecia que eu tava vendo um amigo meu morrendo na guerra...
"Caaaaaad... Caaaadê... minhaa bom... bom...?
"Seu bombom?"
"Nããããããããooooo... minha boooooombiiiinnnhaaa"
"Sua balinha?"
"Nããããããããããããooooo..."
"Então o que é, porra?"
"Minha bombin... bombinha...."
Aí eu fraguei qual era a cuanga. Alguém pegou a bombinha daquele asno de sacanagem e o moleque tava ali se fudendo, coitado. Ele tava com a respiração forte já, aquela coisa desesperadora, aí eu soltei um berro:
"Quem pegou a bombinha desse menino aqui...?"
Aí todo mundo da festa olhou e ficou em silêncio. Até a tiazona mal comida que ficava servindo salgadinhos parou pra olhar.
"Ele tá com falta de ar!"
Aí a mãe do Dudu, dona... dona... sei lá o nome da mãe dele porra!, abriu a bolsa, pegou uma bombinha reserva e deu pro Dudu, falando:
"Quantas vezes eu já falei que não-é-pra-perder-a-bombinha, hein?"
Ele enfiou a boca na bombinha e respirou aliviado...
Logo depois o Ribamar cover chegou e falou com a mãe dele:
"A senhora me perdoe, por favor. Eu estava numa bincadeira com os garotos, e sem saber que isso era importante pra ele, eu peguei pra brincar com eles também."
E na mão do filho da puta tava a bombinha!
Ouvindo Ramones - Censorshit
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