Cara, contei do angú?
Claro que não contei do angú, se tivesse contado, eu me lembraria.
Já se viram em uma situação que você recebe uma ordem que nunca esperaria receber dessa pessoa? Ou seja, um professor de cargo respeitável sugerindo que faça algum tipo de merda que você a princípio acha que é contra as regras, mas mediante uma ordem superior...
O cenário se passa na Escola Técnica JK, aonde eu estudo até hoje. E claro, até ano que vem, já que repeti de semestre.
O horário é por volta de 09:30 e nosso professor de Eletrônica Digital vem humildemente avisar que não haverá a aula de 12:00, como normal. A comemoração na sala é total e a negada até grita em coro de alegria. Fazem o inferno, gritam feito renas loucas atingidas por flechas cujas pontas estão contaminadas com substâncias venenosas, tendo contagem regressiva de vida e muitas lágrimas a derramar.
O alarde é parcialmente total (?) na sala e após a comemoração, ele avisa também que é por causa disso e daquilo. Desta vez eles não comemoram, por que não interessa o motivo de não haver aula. O que interessa é que não vai ter, pronto e acabou. Se for por luto, foda-se quem é o defunto, se for por motivos de força maior, dane-se a força maior. Sim, era assim que funcionava na minha sala. Aliás, funciona até hoje. Aliás número 2, aposto que é assim em muitas outras salas de aula.
Tudo se resumia a simplesmente não sair mais tarde do turno escolar, e o povo comemorava aquilo como a vitória na Copa do Mundo e melhor, sobre a França. Comemoravam tanto que provavelmente o Zidane quebrou o pescoço e houve genocídio sobre toda a torcida francesa.
Não me entendam mal. Aulas até o meio-dia eram um porre, todos mortos de fome, prontos pra pegarem o rango em casa e o pessoal me vem com aulas após o período normal? Hoje isso é totalmente aceitável, afinal já temos todos idade pra assumir nossos compromissos, mas antigamente as coisas não eram interpretadas assim. Haviam poucos alunos na sala que trabalhavam e os outros se preocupavam em conquistar as mulheres da sala de Enfermagem.
No meio da baderna, nosso professor chama a mim e mais alguns alunos para uma tarefa dixavada.
Tratava-se do seguinte:
- Pessoal, me façam um favor, tá vendo essas vasilhas lotadas de angu velho? Pois é, juntem entre vocês aí, 2 a 2, e joguem esse angu todo lá atrás...
O angu em questão era o da festa junina, que havia sido no sábado anterior. Tava na sala desde então, por que havia sobrado muito.
- Como assim professor? Lá aonde?
- Lá atrás ué...
- Lá atrás onde?
- No estacionamento ali mesmo...
A gente olhou pra ele meio que não entendendo... aí um disse...
- Tem boeiro no estacionamento da escola? Nunca vi!
- Não, não tem. Joguem no meio das plantas lá mesmo que ninguém vai nem notar não...
- AHN?
Ninguém entendeu nada. Eram umas 2 ou 3 panelas lotadas de angu... ia dar uma lambança desgraçada e o pau ia quebrar se alguém visse a gente fazendo aquela merda. Ainda mais, jogar angu no meio das plantinhas, ia ficar um puta cheiro do capeta (o angu ficou sem ser conservado, tava fedendo...)
- Então tá...
Levantamnos uma panela e fomos levando na boa. Aí eu vejo a Tia Penha, a monitora-come-rabo-de-aluno-matador-de-aula no fim do corredor. O corredor lá é bem extenso, ou seja, questão de centenas de metros separam uma pessoa do começo ao final. Logo, natural que ela não estava entendendo o que 2 alunos estavam fazendo com uma panela em pleno horário de aula. Istoé, se ela sequer viu a gente. Na dúvida, quebramos pra primeira sala que a gente viu ao lado, pra evitar possíveis começões de rabo. Por mais que a ordem tenha sido dada pelo professor, era mais ou menos errado o que estávamos fazendo e nem sob ordens estávamos livres...
Acontece que a gente entrou em uma sala de enfermagem, um laboratório pra ser exato. Em aula. Lotada de alunos. Elas estavam em plena experiência com algum sei-lá-o-que, que não parecia ser de verdade. Elas olharam pra panela, aquele angu fedido, e perguntaram que desgraça era aquela...
Não antes de tentarmos voltar e tropeçarmos no vão da porta. No meio do tropeço, a panela fez um impulso pra frente, mas conseguimos manter a estabilidade. No entanto, um pouco de angu voou pra fora, fazendo aquela pequena, mas considerável meleca no corredor.
Veio a faxineira, que como disse em outro post, NINGUÉM NUNCA SABE O NOME e vê aquela merda feita. Foi a deixa pra ela olhar pra nós, os autores e começar a falar no nosso ouvido.
- QUE PORRA É ESSA?
- Não é porra não tia, é angu...
- Que cacete vocês tão fazendo com esse panelão de angu aqui no meio do corredor que eu acabei de limpar?
- É que...
- Cala a boca! Leva esse carai pra longe daqui agora! - a véia xingava muito.
Saímos de fininho deixando a véia praguejando lá (e como praguejava... só em menos de 15 segundos, ela invocou o demônio umas 8 vezes, deu uns 10 a 12 nomes diferentes ao genital masculino e ainda nos mandou tomar no cu mais umas 15 ou 20 vezes.) e continuamos com o angu em mãos, mas desta vez pingando. Era devido ao nosso tropeço.
Enfim chegamos ao portão do estacionamento. Que claro, estava fechado, era horário de aula. Tentamos chamar pelo detentor da chave, que nada respondeu. Silêncio... o angu tava fedendo, e a peste do portão fechado, o que fazer?
Aí analisamos o terreno. Eis a planta fornecida por um dos engenheiros do projeto da escola:
Ruim por ruim, poderíamos subir até a janela e tacar o bagulho de lá. Foda-se, ninguém viu, era horário de aula.
Então, subimos a escada com o panelão na mão e tacamos aquela treta de lá de cima, sem ninguém ter visto mesmo. O chão do estacionamento naquele dia se viu um pouco mais amarelo, e o curioso é que haviam ordens superiores para deixá-lo daquela forma.
Sim, claro que analisando hoje, cumprimos as regras de forma totalmente errada, e isso não me deu direito de foder com tudo literalmente. O que eu fiz foi acatar uma ordem dada, mas de forma errada. De qualquer forma, é nessas horas que se encaixa o fator intenção. Posso ter feito merda, mas não tive intenção de fazê-la. Ou se fiz com intenção, ao menos me preocupei em dizer que não tive quando o diretor nos mandou limpar aquilo depois.
Claro que não entregamos o professor. Ele não se manifestou, aquele puto! Mas tudo bem, ele nos deu pontuação suficiente pra passar de ano naquela ocasião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário