quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Motos e hospitais

5 meses 011 Motocicletas são veículos automotores de duas rodas que podem ser definidas como bicicletas com motores. São um meio de transporte que visa muito a economia e fácil manuseio. Gasta pouca gasolina se comparada aos carros e são mais baratas.

Isso é um pequeno resumo do que é uma moto. Agora, o que ninguém sabe é que os acidentes que uma motocicleta causa, costuma doer. Mais na vítima do que na testemunha. É quase certo que 5 minutos após o acidente, haverá no mesmo local um SAMU e muitos curiosos.

"Mas Catito, o que isso tem a ver com o post de hoje?"

Já chego lá.

Terça-feira, 19:30

hl2 Eu estava sentado, em frente ao computador e jogando uma memorável partida de Half-Life 2 (por favor, me apontem um jogo de tiro em primeira pessoa MELHOR que Half-Life 2. Sim, você não encontrará nenhum.) e coçando a beirada da barbicha. Matança daqui, matança dali, tudo muito bom e eis que me toca o interfone.

Tenho uma raiva mortal de interfones. Pra ser franco, os interfones também devem ter uma raiva mortal de mim, considerando que eles só tocam quando não há ninguém em casa e eu estou no banho, cagando ou ocupado jogando Half-Life 2. Mas isso é assunto pra outro post (que por certo só escreverei quando estiver afim).

Interfone toca, lá vou eu me levantando em direção ao fone.

- Sim?
- Caaaaaaaaaaaaiio...

Reconheci a voz na hora. Aquela voz era inconfundível. Irritante, insuportável e com tom de pedição de dinheiro. Entretanto, ela estava com um quê de bichice, como se o interlocutor estivesse com dor de barriga carpa-renal crônica em último estágio. Sim, estava muito gay a voz.

- Rízio, que merda de voz é essa? Resolveu assumir pra todo mundo que é viado?
- Deeesce aaaaéeee véeei...

Daí eu pus o fone no gancho, desci as escadas, atravessei a garagem e vejo uma Belina estacionada na porta da garagem. Cadê o Rízio?

Olho no interior da Belina e só vejo o Seu Geraldo, o lendário pai de nosso amigo Rízio, me chamando pra dar uma olhada por dentro do veículo.

- Que foi, Seu Geraldo... mas QUE PORRA É ESSA?

Vejo o Rízio deitado, TODO ENFAIXADO, com cara de doente em estado terminal, querendo-não querendo chorar, tentando dizer alguma palavra...

- Esse zé-buceta aqui pegou o diabo da moto, deu de cara numa curva com um filho da puta e não deu outra, se fodeu legal. Comeu asfalto igual louco hoje e agora taí tomando no cu.

Olhei pro Rízio e de fato era um estado que dava dó. Ele tava todo fudido, relado pelos lados e a perna dele tava meio enfaixada o que significava que tava bem crítica a situação ali. A cara dele acusava que tava doendo pra desgraçar e que tão cedo a dor não iria cessar. Ruim por ruim, conversamos mais um pouco e Seu Geraldo arranca reto a Belina com Rízio gemendo de dor.

Terça-feira, mesmo dia 20:30

Meu celular toca. Era o Luiz, por certo pra me dar uma notícia que eu já sabia.

- Cara, o Rízio caiu de moto.
- É, to ligado, ele passou aqui na porta de casa.
- Ele é muito burro...
- Isso não é novidade... pior de tudo é que a perna dele tá um cu véio... tu tem que ver.
- Bora subir no barraco dele lá?
- Gogo, já to saindo aqui.

Era uma longa jornada até o barraco do Rìzio. Na subida, falamos de tudo que poderia ter acontecido, chegamos a conclusão de que nosso amigo estava começando a se foder gradativamente e ainda comentei sobre meus avanços no Half-Life 2:

- Não, aí eu peguei a arma anti-gravidade, joguei as cadeiras todas nos soldados, saí metendo bala, explodi o local e depois ainda mandei geral pro inferno com a escopeta.
- Foda.

Ao chegarmos na casa do Rízio subimos as escadas e contemplamos a visão mais tosca.

Rízio estirado na cama de camisa de hippie maconheiro, ciroula que viria até os joelhos, uma faixa enrolada na perna e uma cara de cu que se abriu (a cara, não o cu) ao nos ver. Por certo, queria ouvir palavras doces e aconchegantes dos amigos.

- Burro.
- Anta.
- Pra que tu foi pegar uma desgraça duma moto pra ir ali embaixo no morro?
- É um cavalo mesmo.
- Eu devia era mijar em cima da ferida dessa perna gorda sua.

Ele deitado, ouvia e balançava a cabeça, como que afirmando: "pois é, não devia, vacilei..."

Ruim por ruim, ele tava pelo menos respirando, embora tava na cara que doía demais. Dava dó, mesmo sendo o Rízio.

Sábado - 16:00

Eu e o Luiz dentro de um busão. Desde a terça-feira, havia dado merda geral. Rízio piorou e teve que ir ao hospital, ia dar uma gangrena naquela bicheira da perna dele, e rolou até cirurgia. Mas de boa, no sábado ele já estava legal e em repouso padrão, nada demais.

De dentro do busão eu e Luiz conversávamos.

- Cara, você já visitou alguém em hospital?
- Ah, minha avó uma vez. Mas faz tempo.
- O que ela tinha?
- Sei lá.
- Ah.
- ...
- ...

Descemos do busão e nos vimos em frente ao Hospital Márcio Cunha. O prédio é enorme. Simplesmente colossal, achar o Rízio ia ser uma tarefa árdua. Só então descobri o tipo de serviço que uma recepcionista faz. Nos dirigimos pra lá e ao chegar olhamos pra uma loura gostosa, olhos verdes, seios levemente grandes mas não exagerados, cara de moça que nunca fez nada de errado na vida. Era pra casar mesmo.

- Ahn, oi.
- Boa tarde, em que posso ajudá-los?
- Ehr... ahn...
(naquele tempo eu gaguejava ao conversar com garotas bonitas. Mesmo que eu jamais fosse pegá-las, eu gaguejava) é que viemos visitar um amigo... acidente de moto...
- Pode me dizer o nome dele...?
- R-R-Rízio Pi-Pires. Rízio Pires.
- Ah sim...
- e após um tempo digitando e olhando para o monitor do computador - aqui está.

E me deu um crachá indicando o andar que ele estava, o nº do quarto, me indicando até mesmo como chegar ao elevador. Se ela não estivesse fazendo o trabalho dela, diria que ela gostou de mim.

Não deu outra, seguimos pelo corredor enorme até tentar encontrar o dito elevador. Encontramos duas portas: uma dava pelo elevador, outra pela escada.

- Ahn... Luiz, a gente se encontra no 5º andar então...
- QUE? Vamos de elevador oras!
- Não... eu vou pela escada.
- Você é louco? São 5 andares, seu animal!
- Eu sei...
- eu sempre tive um medo estranho de elevadores. Entrar em uma caixa que tem apenas 97% de chance de não cair e me fazer um defunto não era uma idéia que me agradava. Não é trauma, trata-se simplesmente de evitar um possível (quase impossível, mas possível) acidente.
- Cara, entra logo aqui...
- Eu não, falou.
- e segui pelas escadas.

Não deu outra, o Luiz veio atrás correndo e praguejando. Não sei por que, quando amigos estão juntos, raro eles se separam, exceto para ir ao banheiro. O que daria errado se Luiz pegasse o elevador e me encontrasse bufando de sede ao subir uma série de 5 andares de escada? Mas nãããããão, ele quis vir junto.

OLYMPUS DIGITAL CAMERA         Começamos a subir as escadas, e afirmo uma coisa: ERA ESCADA PRA DESGRAÇAR. Não to zuando, os 5 andares pareciam 250 andares. Parecia não ter fim, e de fato, não chequei se tinha fim mesmo. Depois de subir muuuitas escadas, chegamos à porta do primeiro andar.

- PORRA, PRIMEIRO ANDAR?
- Cara, eu te mato por ter que subir todas as escadas ao invés de usar o elevador.

Subimos mais escadas, morrendo de cansaço. Minutos depois, encontramos a porta que abriria para o destino: o quinto andar!

Giramos a maçaneta e eis que vem à luz! O quinto andar.

Se tratava de um corredor ENORME lotado de portas, porém não é aquele padrão de hospital que você vê em filmes americanos com mães sentadas nos bancos, chorando pela morte ou doença de seus filhos, enfermeiras gostosas indo de um lado para o outro e médicos tentando falar ao telefone. Pelo menos não naquele momento que estávamos ali. Tratava-se de um corredor calmo, com raros momentos em que uma das portas era aberta e saía de lá alguém. Visitas, enfermeiras, médicos, médicas, o escambau a quatro.

- Porra, qual é o quarto do Rízio?
- Cara, 507, tá aqui no crachá...

Aí começamos a procurar. Nunca vi um lugar tão cabuloso igual um hospital. TUDO É MUITO, andares, corredores, portas, enfim. E ao procurarmos, descobrimos o 505!

- Aqui 505, próximo... 506... pilastra... 508... QUE PORRA É ESSA?
- Cadê o 507?
- Sei lá... vai ver é igual Harry Potter, tem que passar por uma pilastra...
- Ahn? Tem isso no Harry Potter?
- Cara, vai ler Harry Potter, e entenderás o que eu te digo.

Eis que me surge a salvação de todos os problemas ou pelo menos boa parte deles no que diz respeito à localização: UM BALCÃO.

Aí a mulher (que desta vez, não era gostosa. Era uma barriguda de bigode.) nos explica aonde fica o quarto 507, que era LONGE do 506 e do 508. Provavelmente era no corredor dos pacientes que já iam dessa pra melhor muito em breve. E nosso amigo estava entre eles.

Seguimos e entramos no quarto 507.

Nunca vou esquecer dessa cena.

Esperávamos entrar em um quarto e encontrar o Rìzio chorando, morto de desesperado por ter tomado aquele acidente e jurando que se saísse dessa vivo, ia tocar White Metal pro resto da vida.

Mas o que vimos foi ele alegrinho na cama, vendo TV, se divertindo e comendo um pedaço de chocolate. O pernão fudido tava levantado por um suporte, e ele tava mais alegre que eu em anos...

- Que pica é essa?
- Aoooo galera! Que bom que vocês vieram!
- Bom o cacete! Tu tem noção do quanto a gente demorou pra encontrar essa porra de quarto?
- Faz parte. Chocolate?
- Enfia no rabo, quero não.

E se seguiu a tarde inteira de trocas de gentilezas como essas. Com TV a cabo no quarto, enfermeiras gostosas dando remedinho na boquinha, e ele de boa naquela cama, que mais ele queria? Se fosse pra topar com uma loira daquelas na recepção, enfermeiras gostosas me visitando e perguntando se eu precisava de algo (sexo oral, por favor...) eu pegava uma CG Titan e me dava de cara no poste naquele dia mesmo. Era uma espécie de oásis de garotas gostosas que fazem aquilo pra não te ver mal (ou pra não perderem o emprego né...).

Deixamos nosso amigo cabeçudo (chulispa) lá, mas é claro, eu fiz questão de me despedir da moça da recepção:

- Tch-tchau mo-moça!
- Tchau.
- e deu tchauzinho. Naquele momento, meu mundo se desabou. Ela era casada! Tinha uma aliança, eu sei que era uma aliança!

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