Desde os primórdios dos tempos, desde as primeiras gotas de chuva tocarem o solo da Terra e os raios solares iluminarem, existe o bullying. Trata-se de zoar, intencionalmente, a título de brincadeira maldosa uma pessoa por algum defeito físico ou psicológico que ele tenha. Por exemplo, um garoto com dentes grandes é chamado de coelho, outro com óculos é chamado de quatro-olhos, e essas putarias assim. Sempre fui magro e muito alto, então eu era o "Vareta" na minhas épocas de classe escolar. Nem me importo muito, a zoeira que eu praticava era consideravelmente maior do que a que eu recebia.
Lembro-me dos meus tempos de bullying, claro, não praticados por mim. Mas devo citar que houve amiguinhos que se ferraram na mão de colegas de classe maldosos, isso quando não sofriam na mão dos professores. Fato incontestável é que isso dava pra ver na cara que incomodava o receptor da zoeira e pra piorar, isso era como um motivo pra continuar, e o filho da puta continuava zoando por pura maldade. Nunca fui esse filho da puta.
Alguns casos de bullying eu já vi de perto, alguns realmente maldosos e ofensivos.
- Língua enrolada.
Nos meus tempos de prézinho, na Escola Infantil Reino Encantado, existiram diversos casos de bullying, e hoje me lembro de um em especial que chamaria a atenção consideravelmente. Havia um amigo meu cujo nome era Helton ou Cleiton, ou sei lá, só sei que o nome do cara termina com a sílaba "ton". Esse cara, que na época era um garoto tinha um problema na língua, era enrolada. Em outras palavras, ele era fanho. Então, naquela época isso foi um grande atraso pra ele, coitado. Ele não aprendia a ler e falar corretamente por causa da língua enrolada. Em outras palavras, pra dizer meu nome, ele dizia "aio", pra professora era "oeoa"e por aí vai. Ele não tinha firmeza na língua pra dizer as consoantes, apenas emitia o som de vogais, que fazemos com a garganta.
Até aí, já não estava nada bem, e o problema é que o coitado comia massa de modelar, era caolho tinha cabelo ruim e chorava todo dia com a zoação dos coleguinhas. Quando criança, eu era bonzinho e não fazia chacota com a cara do garoto, então eu sentava na mesma mesa que ele. Só pra constar, no prézinho sentamos 5 garotos em uma mesa da altura correta, e não cada um em uma carteira.
Pois é, teve um dia que ele se emputeceu. Ele não ia aguentar mais aquela falta de respeito com ele. A sua paciência havia chegado ao fim, e ele não estava nem aí pra nada, ele estava implacável. Eis que ele chega e confessa o plano para mim, que era um cara que conversava com ele:
- Aio!
- Han... E aí cara?
- O Uo! a o u! e oooa! e-hi aa ó a-hem hi a inha a-a!
Tradução: "To puto! Que porra! Esses caras só sabem rir da minha cara!"
- Poxa cara, calma... - eu entendia o dialeto que ele pronunciava
- Aua o a-hete! Hého em haher! Hô hehar he-hal!
Tradução: "Calma o cacete! Quero nem saber! Vo quebrar geral!"
Ali eu vi que ele tava falando sério. Olhos inchados, querendo chorar de raiva, mas ele foi à caça de um por um, tipo o Max Payne, sedento por vingança, chegou no meio da quadra e gritou:
- Ó-ha i hihos da huda!
Tradução: "Corja de filhos da puta!"
Ninguém entendeu nada. E cá pra nós, isso que eu traduzi foi tradução aproximada. Ninguém nunca vai saber o que ele disse, e nem ele. Porque, 15 segundos depois, geral da sala caiu batendo nele e eu só lembro de ver ele tomando bicuda na barriga feito louco, coitado. Eu ainda tentei gritar pra mandar eles pararem, mas pra ser franco, ninguém me ouviu.
Apanhou muito o coitado. No dia seguinte, eu nunca mais o veria, pois os pais o tiraram da escola. Sei lá pra onde ele foi ou qual rumo ele tomou na vida...
- Coqueiro
Aconteceu por volta da minha 1ª ou 2ª série, não me lembro. Tratava-se de uma pequena peça de teatro, e todos os alunos iriam participar. Montaram o cenário e se tratava de uma floresta. Era algo com uma princesa, um príncipe, um rei, uma rainha, e tudo mais, no melhor estilo "Era uma vez".
E começaram a distribuir os papéis. Coincidentemente, o Raul, que era loirinho dos olhos verdes, pegou o papel de príncipe juntamente com a princesa Letícia, que também era ariana. Tenho pra mim que minha professora era seguidora de Hitler, mas whatever.
Na hora de distribuir os papéis, os alunos mais bonitinhos e bem afeiçoados ficavam com os papéis principais, e nós, os feios, com os papéis escrotos.
- Raul.
- Eu, professora!
- Você vai ser o príncipe!
- Letícia!
- Oi?
- Você vai ser a princesa.
- Júnior.
- Sim?
- Vai ser o rei.
- Caio!
Aí eu cheguei. Ela me olhou de cima a baixo, fez uma expressão facial que demonstrava algo como se tivesse me tirado do nariz, ou do cú.
-... Hum... Deixa eu ver... ah, já sei, você vai ser o coqueiro.
- Como?
- O coqueiro. É muito fácil, não precisa dizer nada, ninguém vai olhar pra você, então não precisa ter vergonha.
Pois é, eu era o aluno feio. Não tendo melhor papel pra mim, e usando a desculpa de que eu sempre fui um dos mais altos da turma, eu sempre fiquei com o papel de árvore.
Era simples. Nos ensaios, bastava eu ficar olhando pro nada sem demonstrar qualquer emoção na face. Caso desse errado, bastava ficar quieto. Eu nunca erraria a fala. Afinal, eu não tinha fala.
Daí começaram a mangar da minha cara. Chamavam-me de coqueiro, até o dia da peça.
Minha mãe tava lá na primeira fila com uma máquina que havia comprado com filmes de 36 poses (naquela ocasião, câmeras digitais eram apenas protótipos.).
E então começa a peça. Entra o Raul e começa a recitar as falas e eu lá com uma roupa marrom e um chapéu verde na cabeça que lembrava a copa de um coqueiro. Fiquei olhando a peça, de cima do palco, desconsiderando o fato de que eu tinha um BRILHANTE papel durante a história.
O problema era minha mãe batendo foto de tudo quanto é ângulo, se orgulhando eu não sei DO QUÊ. Mas lá estava.
Devo ter as fotos até hoje. Se eu já não as tiver queimado.
- Gordura
Essa é foda, realmente violenta.
Estudei da 6ª série até a 8ª em um colégio Adventista. Até que era boa escola em questão de amizades e os professores eram gente boa, e é claro, haviam os alunos zoados.
E um desses era um de meus amigos, que embora eu não vá citar seu nome aqui, é bem óbvio pra muitos que frequentaram a sala de aula comigo.
Esse meu amigo era exageradamente gordo. Roliço. Rechonchudo e muito, muito, muito gordo mesmo. Era um cara gentil, gostava de conversar com as pessoas, um pouco mimado, mas realmente gordo. Não que isso seja um defeito, e sim uma característica.
Tá brincando que ele não iria ser um cara zoado né? Pois bem., começamos a chamá-lo carinhosamente de Nhonho, porpeta, Zanon (do Sr. Barriga, esse é o primeiro nome dele.), picolé de bacon, enfim. Não seria um problema se as zuações parassem aí.
Começamos a, todos os dias, no EXATO momento que ele fosse sentar, todos os demais se levantassem e sentassem de volta, como se o peso dele fizesse força para tudo subir, entendem? Aquilo virou mania e perseguição, toda vez que ele fosse sentar, era fato, todos os demais levatavam e sentavam de volta. Claro, aquilo uma hora lhe subiria o sangue. E eis que ocorreu:
Havia um de nós zoadores que era o mais irritante. Eu zoava ele um pouco, mas precisando, eu estava ali pra ajudar nosso amigo gordinho. E sempre que ele pedia pra parar, eu parava sem problemas. Porém, esse que era o mais irritante, fez um dia de sacanagem...
A professora estava esperando que todos fossem ao banheiro, um por um, pra evitar confusão. Então eu fui, voltei, foi outro, voltou e assim por diante. Chegou a vez do gordinho, e todos esperando para que ele sentasse, para então levantar e sentar de novo.
E logo após o gordinho, era nosso amigo irritante. Ele fez questão de esperar ele sentar para que então pudesse levantar. E foi o que ocorreu. Ao nosso amiguinho gordo sentar, o irritante deu um pulo de 1 metro e caiu no chão rolando.
A galera começou a rir, e ele se contorcendo no chão. Ao voltar do banheiro, ele mancando. Fingindo, é claro.
Isso não foi o pior. O pior ocorreu meia hora depois. O irritante chegou no ouvido do gordinho e começou a dizer:
- Gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay, gay.
Eu estava vendo isso e pensando:
- Isso vai dar merda, 06. - Sim, fui eu que inventei a frase.
E então o gordinho soltou um grito de impaciência:
- PORRA! VAI TOMAR NO CU! NÃO ME ENCHE O SACO, FILHO DA PUTA!
A sala se calou.
A professora, depois de 2 segundos, respirou e disse:
- Que boca é essa rapaz?
- Ah, se ferrar todo mundo! Esse filhote de vagabunda tá me chamando de gay a 5 minutos, e você que é sonsa não faz nada pra ele parar!
- Como é que é? Eu, sonsa? Ele te chamando de gay?
- É isso mesmo!
- Vão os dois pra diretoria. AGORA!
E foram. Eu só sei que no final da aula, os dois foram suspensos. 4 dias. Claro, houve ameaça de morte entre os dois.
Só que ambos estão vivos. Droga!
- Torneio
No meu primeiro ano eu já fui para a Escola Técnica JK, cursar meu Ensino Médio. Minha sala era constituída dos mais variados tipos, mas até que eram gente boa.
E toda a sala tem um com pinta de viadinho. Na minha não era diferente. Eis que me aparece o típico "Mamãe , sou gay" da minha sala. Usava sapatinho, camisa pra dentro, desmunhecava e conversava de novelas com as garotas.
Se ele não fosse Bambi, eu garanto, nada mais seria.
Eis que ocorreu o dia que ele resolveu provar pra todos que era realmente macho. Houve um torneio de futsal na escola, e montamos os times. Nunca curti muito futsal, mas valia pontos no bimestre, então eu me inscrevi torcendo pra ficar no banco de reservas.
Os times foram montados e o viadinho estava no meio de um deles!
Porra, não é que no dia do torneio, no vestiário, ele passou creme de pele pra ir jogar?
O pessoal não perdoou... e esse foi merecido!
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