sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Excursões, escolas e castigos

Cara, excursão com a escola é foda. Sempre foi e acredite, uma das melhores partes de uma escola são as excursões que a mesma promove. Quando pivete, eu participava de todas, era um piolho de excursão mesmo. E claro, por alguma razão eu sempre era acusado de roubar o pão na casa do João.

onibus Sempre era obrigatório o bilhete assinado pelos pais, o lanche e o uniforme devidademente providenciado, de acordo com o que dizia no bilhete. Era, de fato, um ritual a ser seguido sempre, e no dia seguinte uma coisa era certa: alunos mongolóides com pais ausentes esqueceriam os bilhetes, chorando feito reféns em um banco tomado por terroristas. Seus prantos por não poderem entrar no busão e seguir caminho para o destino da excursão.

Não adianta chorar, espernear, pedir pufavorzinho. Tia Rosana (não era esse o nome da coordenadora, eu só estou usando nome fictício, por que ela é amiga de mamãe.) era implacável em suas ordens. Quem não tivesse bilhete, que fosse pra sala de aula berrar a vontade. Que se dane. Ninguém mandou ser dudu e esquecer a assinatura da mãe.

- Mas eu não tenho mãããããããããe, tia! - era a resposta a ser dada para tentar escapar.

Lembro-me de uma vez de um tal de Rodrigo que estudava na minha sala em meados da 3ª ou 4ª série. iríamos fazer uma excursão, veja bem, ao Aterro Sanitário de Ipatinga. Não sei que diabos a escola nos mandaria para um lugar aonde se concentra toneladas de lixo ipatinguense e região. Um dia antes à excursão, tia Rosana entrou na sala e fez aquele lendário discurso de funcionário efetivado (que não pode ser demitido, a menos por razão MUITO boa. Matar um aluno por exemplo.) que dizia:

SALA DE AULA DCNAT - Olá classe.
- Ooooi tiiiiia ROSAAAANAA!
- respondiam. Eu não, eu sempre deixava os trouxas gritando para economizar voz. Hoje tenho uma enorme quantia de economia de voz. Se voz fosse moeda corrente nesse país, eu estaria milionário. Ou não, já que sou vocalista. E vocalista ruim ainda, por que gasto mais voz que o normal. Um bom vocalista gasta pouca voz.
- Classe, quem aqui tá querendo ir ao Aterro Sanitário?
- EEEEEUUUUUU TIIIAAAA ROOOOSAAAAAANA!!
- mais uma vez todos respondem. Eu é claro, não iria responder uma pergunta como aquela. Por que eu iria conhecer uma merda de um lugar que deposita lixo? Quero ficar em casa jogando Donkey Kong!
- Classe, prestem atenção aqui em mim! Estão vendo essa folhinha? Estão? Aí atrás, todos estão vendo? CAIO, TIRA O DEDO DO NARIZ A-GO-RA! - e assim, eu tiro o dedo do nariz, que estava com respeitável catota impregnada no interior. - Pronto. Esse papel, vejam bem é uma au-to-ri-za-ção. Vocês não podem ir para o passeio sem a autorização, estamos entendidos?

E fez aquela explicação de qual a importância da autorização, já que se der merda com algum aluno lá (cair dentro de um compactador de lixo por exemplo ou ser atropelado por um trator.), a autorização impede que o cu a ser comido seja o dela. Ou seja, o objetivo não é prevenir o acidente e sim tirar o seu da reta. Ou algo assim.

Deixando claro pra todos na sala ficarem bem entendidos que sem autorização NINGUÉM VAI, Tia Rosana dá meia-volta e sai da sala, olhando é claro, pra mim e dizendo:

- Caio, você. Na minha sala. Agora.

E geral ficou rindo de mim. Me senti muito mal naquele momento. Chamando-me para uma conversa em particular na minha sala, Tia Rosana fez com que todos os meus coleguinhas na classe rissem de mim, chamando-me de boboca, bobão, e outros apelidos extremamente ofensivos que mais tarde fariam com que minha personalidade infantil entrasse em colapso com um provável complexo unifilar de alto teor ofensivo. Simplificando, ela queria era meter pressão.

Percorri o longo corredor da escola e no caminho, me lembro bem, avistei a tia da faxina (que assuma, ninguém NUNCA SABE O NOME) e ela olhou pra mim com cara de "passa logo moleque, eu tenho que varrer esse chão". Viramos à esquerda, subimos um pequeno lance de escadas, seguimos reto e chegamos em fim à sala.

Ela entrou, fechou a porta e me mandou sentar.

- Sabe por que você tá aqui?
- Por que eu saí de onde eu estava e vim pra cá, oras.
- meu senso de sarcasmo era grande quando moleque. Mais tarde isso me daria uma série de problemas, mas isso é assunto pra outro post.
- Caio, você me entendeu. A professora me disse que não precisava ter essa conversa com você, mas eu penso diferente.
- Mas por que professora? EU SÓ TAVA LIMPANDO CATOTA DO NARIZ!
- Você sabe do que eu estou falando.
- Do que?
- Você bateu no Rodrigo com um caderno e um relógio de pulso ontem?
- QUE?

PUTAQUEOPARIU, o filho da puta me caguetou pra direção! Gordo mentiroso, eu não tinha feito nada disso! Eu só pedi o meu caderno de volta e o zé ruela não me devolveu. Aí eu peguei a força e como eu usava um GumWatch na época acabou arranhando ele e machucando (sorry, não encontrei imagens desse relógio na net. Mas eu nem procurei direito também...). Mas não foi por querer!

- Bateu ou não?
- Tia, eu não fiz isso!
- aí expliquei a situação pra ela. Mal-comida que ela era, não deixou por baixo e resolveu usar a excursão pra me castigar, não deixando eu ir.
- Infelizmente Caio, você não vai ao Aterro.

Na hora eu fiquei puto. Não por não ir ao aterro, é mais por ter que assumir um erro que não foi meu. E não aquela raiva que você deixa transparecer, falo daquela raiva que começa a espetar por dentro e você não demonstra, guardando apenas pra você. Naquela hora, eu não respondi nada.

- Tá.
- Tá?
- É, tá. Ué, se você me proíbe de ir, eu não vou. Mas eu já expliquei, tia, não foi por querer.

Ali eu vi o valor de se manter com a opinião a qualquer custo. Ela olhou pra mim e só falou:

- Tá Caio, pode ir pra sala.

Eu só levantei, saí da sala, olhei pros lados e vi que o recreio tinha começado. Todo mundo correndo de um lado pro outro, daí eu vi um cara da minha sala e perguntei na hora:

- Hey, hey. Viu o Rodrigo cara?
- Vi não véio... ele tava aqui agora a pouco, eu acho.

Daí eu resolvi procurar na sala de aula. Nada. Ninguém tinha visto ele. Cheguei a perguntar pra Aline, uma amiga minha e ela não soube também. Na mesma hora, lembrei que tinha que mijar e tomar água, por que no meio da aula era difícil da professora deixar isso.

Rumei para o banheiro e entrei em um dos box. Comecei a mijar e ouço coisas que não eram normais. Como por exemplo, uns "snifs" de choro do outro lado do banheiro. Daí eu saio e começo a olhar por baixo de cada porta. Nada. Nada, nada. Quando eu chego no último box, está um par de tênis, umas pernas gordas e o som de alguém assoando o nariz depois de ter chorado.

Bati e uma voz respondeu chorosa.

- Vai embora!

Reconheci a voz na hora!

- RODRIGO??!?! Seu gordo escroto! Me dedou sem motivo! Você sabe que eu não te bati por querer!
- Vai embora!
- Não vou, você me deve explicação, seu merda!
- e com meu instinto assassino, comecei a bater na porta com o pé até ele abrir e aparecer com a cara inchada de tanto chorar.
- Cara, não foi por querer que eu te dedei!
- Como assim, "não foi por querer"? Tá me dizendo que alguém te obrigou a ir lá me dedurar?
- Não! É que a tia viu a marca do relógio no meu braço e perguntou quem foi... CARA, EU FALEI QUE FOI SEM QUERER, MAS MESMO ASSIM ELA NÃO ACREDITOU! Aí eu falei seu nome! Desculpa cara, desculpa mesmo.

Aí eu analisei a situação. Bem que poderia ser verdade o que ele estava me dizendo. Não cheguei a pensar nisso naquele dia, mas hoje eu penso e bem que a Tia Rosana pode ter visto a marca, colocado o pequeno bolo fofo contra a parede, e fazer ele dizer o que ela queria ouvir. Manipular uma criança de 10 anos pra falar o que você quer que seja a verdade é a coisa mais fácil do mundo.

- De boa cara. Tem nada não. - respondi. A culpa não era dele. Pelo menos ele não teve a intenção. - Mas por que você tá chorando aí no banheiro?
- Por conta disso cara. Agora você tá de castigo né?
- Estou. Não vou na excursão pro Aterro. Mas que se dane.
- Cara, desculpa mesmo.
- Deixa pra lá.

E voltei pra sala. Pelo menos PRA MIM, a inocência tava provada. Não tinha idéia da seriedade da situação naquele tempo, mas acredite, hoje eu analiso e é muito fácil saber qual era a verdadeira intenção de Tia Rosana: mostrar serviço. Pegou um pra Cristo e pronto.

Nem pensei muito naquilo durante a aula naquele dia. Nem vi direito o Rodrigo também. Pra falar a verdade, eu nem pensei naquilo durante um tempo, até que me entra a Tia Rosana e me chama pra conversar com ela. DE NOVO, pensei eu...

Segui o mesmo caminho até a sala dela, vi a mesma tia da faxina no mesmo lugar (o que me leva a crer que ela era ruim de serviço) e entrei na sala.

Seguindo o ritual padrão, ela me mandou assentar.

- Caio, sabe por que está aqui? - Ela sempre tinha que fazer a mesma merda de pergunta. Eu também daria a mesma resposta.
- Por que eu saí de onde eu estava e vim pra cá, oras.
- Caio, o que acontece é o seguinte. Você me explicou a situação e o Rodrigo veio cá me contar o que aconteceu. Você tá fora do castigo.
- Ah. Tá.
- Tá?
- É, tá.
-... pode ir pra sala.
- Tia...
- Oi? - e ela olhou pra mim.
E lá estava eu, limpando catota do nariz.

E assim terminou. De qualquer forma, minha mãe coruja olhou o bilhete e me obrigou a ir pra excursão, o que renderia mais assunto pra esse post, mas eu tenho que economizar posts, estou perdendo criatividade, e se meus texto já são chatos, a tendência é piorar daqui pra frente. xD

Rodrigo? Bom, não era esse o nome do garoto, e pra ser sincero, o nome do garoto era um nome que só ele no mundo tinha. Ele se magoaria muito, pois já tinha uma queda pra ser gay, e todo muno na sala abusava dela em relação ao seu modo feminino / gordura exagerada, de modo que eu tive uma certa dó dele e deixei toda aquela história pra lá, mesmo por que ele não teve a culpa. Por favor galera, era só um gordinho que não tinha modos de menino.

 

 

 

 

 

 

 

Nota final: cá pra nós, eu não era tão inocente assim. O que aconteceu foi que eu estava quieto e o Rodrigo pegou meu caderno sem me avisar, só de sacanagem. Eu peguei o caderno de volta e ainda dei uns sopapos naquele leitão pra ele ficar esperto, esperando que ele fosse ao chão pra bicudá-lo mais e mais. Fiquei com pena e deixei isso pra lá. Claro que minha versão prevaleceu. Pela lógica, ele que era gordo, deveria me encher de porrada, que sempre fui magro. Mas parece que ele era mocinha demais, sei lá.

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