quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Roça

Oh férias.

“Mar é igual campo. Com a desvantagem que afunda.” (Analista de Bagé)

castelo_ra_tim_bum Deixe-me contar uma história caros amigos, de umas férias passadas minhas em meus tempos de pirralho, quando eu tinha como ídolos o Melocoton, o Nino do Castelo Rá-Tim-Bum e o Ash do Pokémon.

Eu tenho um amigo de infância, que até hoje eu continuo tendo contato com ele, é o Beba (lê-se Béba).

Não sei como eu conheci o Beba, pra ser franco. Amigos muito antigos, a gente não lembra a data que conheceu, você simplesmente se conhecem e pronto. Não tem o que questionar.

O nome do Beba é Júlio César. É impressionante, mas o Beba é EXATAMENTE o contrário de mim. E quando eu digo isso, é a mais pura verdade. Enquanto eu sou zoador, falo alto e converso com todo mundo, ele é o típico "na dele", só diz o necessário, não fala quase nada com ninguém, e seu grupo de amigos é muito limitado. O que me leva a crer que é impressionante que sejamos amigos a muito tempo. Provavelmente ele deve me odiar por todos esses anos, por alguma razão desconhecida, e guardado esse ódio pra se manifestar no momento certo. Beba, segure sua fúria.

Pois bem. Enquanto moleques, estudamos juntos da 1ª a 5ª série. Assumo, eu era um moleque detestável, mas por alguma razão, todas as minhas professoras gostavam de mim, faziam questão de ir até minha casa falar bem de mim pra mamãe, e minha mãe manteve amizade com todas as minhas professoras. O fato se confirmou ainda mais, quando nos mudamos para uma casa ao lado da escola em que eu estudava.

Mas isso não vem ao caso.

Beba e eu dividíamos a merenda no recreio e jogávamos videogame o tempo todo. Sunset Riders forever, e até o Luiz também jogava conosco, ou nós jogávamos com ele... não interessa.

Houve umas férias em que o Beba ia pra Alvinópolis, terra da família dele, e a mãe dele me fez o convite para ir com eles. Porra nenhuma pra fazer, peguei minha mala e rumei no carro com eles.

Alvinópolis não é tão longe de Ipatinga, e a viagem foi tranquila, até certo ponto.

...

dramin Acontece que é o seguinte. Quando criança, eu enjoava muito dentro do carro, e até hoje, vomito em viagem, sinto enxaqueca e toda essa merda junto. Sempre minha mãe me entopia de Dramin, antes de mesmo de começarmos a viagem, e até bife minha avó mandava a gente comer. (bife... é cada uma...)

Pois bem, qual não foi minha vergonha, quando dentro do carro, eu jogo a janta fora bem no ato ali. Fernanda, a irmã mais velha do Beba, ficou com aquela cara de nojo, mas eu nem aí, moleque tem que fazer essas coisas mesmo. Cuspi todo o rango ali mesmo, sem dó nem piedade, e já tava novo. Vomitar é um santo remédio, acredite. Exceto em casos de bulimia, mas esse não é o meu, embora pareça.

Foi meio que um pandemônio dentro do carro, e bem no meio da estrada, tudo na confusão. As estradas estavam até tranquilas, nada demais não. O problema era todo mundo gritando "Ahhh, o Caio vomitando, que-eu-não-sei-o-que, batata, tomate e pão".

Aí o sr. João, pai do Beba parou o carro e analisamos a situação. Eu fiquei morrendo de vergonha, achando que todo mundo ia colar o bazé (colar o bazé... meu Deus, a quanto tempo não ouço isso...) e então... simplesmente todo mundo começou a rir e achar graça, exceto a Nanda, coitada, tava era com cara de nojo sem fim.

O pessoal começou a rir dentro do carro sem parar.

- HAhahAHAHhahAHHahahAHhaHHAhah, o Caio vomitou, meu Deeeus!

Eu não sabia se ria ou escondia a cara de vergonha. Comecei a rir também e daí eu saí do carro, peguei uma garrafa d´agua que tinha ali e me limpei um pouco. Foi a deixa pra chegar em Alvinópolis de bom humor. Nas curvas, o pai do Beba ainda jogava aquela:

- Cuidado hein Caio, lá vem uma curva, olha pra frente e respira fundo.

Eu tinha que rir. xD

Ao chegarmos em Alvinópolis, e logo após fazermos algumas visitas, rumamos para a roça do sr. Tatá, o avô do meu querido amigo Beba.

Uma breve descrição da personalidade de Sr. Tatá: é o avô que todo mundo tinha que ter, é o mais comédia, o mais brincalhão, o mais sem noção que se pode imaginar. Ele tem uma tara inexplicável por morenas.

- Você é amigo do Beba?

- Sou sim, sr. Tatá.

- Estuda com ele?

- Estudo sim, sr. Tatá.

- E na sua sala tem muuuita morena gostosa?

- Ahn... não muitas.

- Então muda de escola meu filho...

O sítio era frio como o coração do diabo. (Max Payne)

E acredite, era frio mesmo. Quando anoitecia lá, parecia que o céu ia cair, tu num via nada além de escuridão a dois palmos da sua frente, e quando amanhecia, tudo que se via era uma nuvem de neblina grossa e densa que não dava pra ver merda nenhuma também. Parecia uma boca-de-fumo em local aberto. O único momento que a visibilidade era totalmente tranqüila era depois das 10h até às 18h.

Era um sítio, não dava pra se ver muita coisa a ser feita. Exceto acordar às 05:30 da matina com o som de Sr. Tatá tocando os bois para o pasto num frio congelante e vestindo nada além de camiseta, jeans e botas. Botas essas que tinham a idade dele, aposto.

- Cara, seu avô é psicopata.

- Eu sei.

Contei das laranjas?

É o seguinte, lá tinha um pomar lotado de laranjas. De tudo quanto é tipo, e pra mim esse negócio de classificar laranjas por nomes de serra d´agua e afins é pura viadagem. É laranja e pronto.

Eis que me surge às duas da tarde o Sr. João com um balaio maior que eu lotado de laranjas. Ele virou pra mim e pro Beba e disse:

- Podem começar. Até amanhã, tudo isso aí tem que ser consumido. Só vocês dois.

laranja Aí eu e o Beba começamos a chupar laranja. Chupa aqui, chupa ali (chulispa...), e por aí vai, eis que a gente começa a pedir arrego. Porra, tava chupando laranja a mais de 3 horas, eu não podia mais ver laranja na minha frente!

E ainda o Sr. Tatá botando lenha na fogueira:

- Vaaaaamo gente. Chupa essa laranja.

- Vô num quero maaais!

- Qué sim, é só pensar que é perereca de muié que tu chupa isso aí tudinho em dois tempos!

Resultado foi que às oito da noite nós entramos pra tomar banho, e na hora que eu caguei, só via pedaço de bosta e bagaço de laranja consumido pela metade. O espírito de catinga da laranja ficou na minha mão, com aquele odor ácido e sabonete nenhum nesse mundo tirava.

E na janta:

- Ô pai, tem suco?

- Tem.

- De que?

- Laranja.

Vendo nosso desânimo, o Sr. Tatá se apiedou e chegou com uma outra jarra.

- Fiz outro suco pra vocês.

- OBAA! De que, vô?

- Mexerica.

Até hoje, eu tenho cá minhas dúvidas que Sr. Tatá tava era zoando com a gente quando fez o suco. Mas que seja...

Mas o caso da pimenta eu não posso esquecer.

Seguinte, todo dia na hora da janta tinha uma série de pequenos temperos a disposição do pessoal, pra simplesmente almoçarem com o gosto que quiserem da comida. Tinha sal, pimenta, e o caraiaquatro. Até que um dia me chega o Sr. Tatá com um potão de pimenta:

- Aqui Jão, essa aqui é do mal, mata até porco. Queima tanto que depois que mata já deixa até o churrasco pronto.

E todo mundo olhou.

Sr. Tatá virou pra mim e disse:

- Prova aí meu filho...

Quando eu ia pegar a pimenta pra comer um pouquinho, vem a mãe do Beba, Dona Marília:

20050129-pimenta_dedo_edit - Você tá louco pai? Se esse menino provar pimenta, vai passar mal.

- Vai nada, ele é homem já.

- Pai, pai, ele não tá acostumado.

- Marília, eu cortava bago de porco com 6 anos. Se esse menino não comer pimenta com 10, ele tá morto.

- Pai, ele vai passar mal.

- Vai naaada.

- Vai!

- Vai não.

- VAAAAAI

- VAAAI NÃO, TOMA LOGO ESSA PIMENTA.

E eu peguei e dei uma mordidinha bem de levinho. Aí eu falei, “ah, é levinha”. 2 segundos.. 5... 6... aí começou a arder a ponta da boca. Comecei a sentir uma queimação estranha se alastrando pela boca inteira, beirada da língua, como se realmente tivesse algo pegando fogo. Começou a ficar tudo seco na minha garganta e botei a língua pra fora. Quando eu olhei, eu tava suando feito louco.

Só consegui gritar:

- ÁGUA! ÁGUA PELAMORDEDEUS!

Tava queimando muito, e eu saí correndo pra cozinha. Olhando tudo, peguei o primeiro copo que eu vi na minha frente, abri a geladeira, pus a jarra de cabeça pra baixo, e despejei tudo em cima da minha boca. Nem assim a queimação passou.

Aí não passava mesmo. Nada. Aí Sr. Tatá falou:

- É fácil de tirar essa queimação... toma um pouco de leite.

- Tem leite aí?

- Tem. Mas tem que ir no curral pegar da vaca.

- ¬¬’

Aí eu mão num balde, saio correndo em direção ao curral. Mas eu não sabia diferenciar vaca de boi (só pra constar... lá não tinha vacas malhadinhas preta e branca. Só vaca marronzinha, tipo boi...), exceto pelas tetas. Aí eu chego lá e começo a olhar o genital dos bichos.

- Boi... boi... boi... boi... boi... boi... caramba, SÓ TEM BOI AQUI!

Eis que eu avisto no meio umas 2 ou 3 vacas reunidas. Reconheci pelas tetas. Aí eu chego com jeitinho, faço um carinho e digo:

- Oi Mimosa, tudo bem?

- Moooooooon.

- Posso pegar um pouco de leite? Minha língua tá ardendo um tanto...

- Moooooooooooooooooooooon.

- Posso?

- Moooooooooooooooooooooon.

- Hum... isso é sim?

- Moooooooon

- Então tá. Valeu!

Aí eu, que era criança e até então nunca tinha pego nem em teta de mulher, coloquei o balde, arrumei o banquinho e falei:

- Não deve ser muito difícil.

E aí me abaixo, pego uma tetinha e aperto não com muita força pra não deixar a vaquinha sentir dor. Sai um fiozinho de leite, mas eu não tinha prática, logo logo parou de sair leite.

- Merda... qualé Mimosa, vai negar leite pra um necessitado? – a queimação na língua tava incomodando já...

- Moooooooooooooon.

Aí eu levanto, passo a mão na testa suada e olho pra trás. Sr. Tatá vindo em minha direção com o Beba.

Ao chegar, ele foi direto:

- Tentando tirar leite da vaca?

- To tentando, Sr. Tatá...

- E só conseguiu tirar esse pouquinho?

- É...

- Tsc tsc, dá licença, deixa eu te ensinar a fazer isso.

E ele se abaixou, deu um tapa daqueles de dar dó na Mimosa, pegou as tetas dela com força e começou a espremer com uma intensidade que se fosse alguma pessoa, ia tremer de dor, tadinha. Mas saía uns jatos de leite violentos, daqueles que uma só enchia 2 ou 3 copos.

Ai ele puxa um caneco que sempre levava com ele, enche no balde, vira pra mim e diz:

- Bebe. Tudinho.

Eis que eu tomo uma caneca e voilá, a dor na boca sumiu.

Aí ele vira pra mim, levanta um dedo e diz com uma pose de sábio ancião da montanha:

- Meu filho, deixa eu te ensinar uma coisa: mulher e vaca é tudo igual. Tem que tratar com desdém, senão elas fazem você de otário.

- Ahn... entendi.

Ouvindo Metallica – The Memory Remains (S & M)

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